terça-feira, 7 de julho de 2009

Reflexões sobre evangelização I

a) O Metodismo caracteriza-se por sua paixão evangelística, procurando proclamar as boas-novas de salvação a todas as pessoas, de tal sorte que o amor e a misericórdia de Deus, revelados em Jesus Cristo, sejam proclamados e aceitos por todos os homens e mulheres
(I Cor. 1.22-24). No poder do Espírito Santo, através do testemunho e do serviço prestados pela Igreja ao mundo em nome de Deus, da maneira mais abrangente e persuasiva possíveis, os metodistas procuram anunciar a Cristo como Senhor e Salvador ( I Co 9.16; Fp 1.12-14; At 7.55-58).Plano para a vida e missão

At 1:8 Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra.



Espalhar a santidade bíblica

- Afirmar que há um grande vigor na consciência vocacional do mo vimento wesleyano. Entendia Wesley que havia uma razão de ser na exis tência do Movimento Metodista. Era como dar oportunidade à expressão de Lutero: "Igreja reformada, sempre reformando-se". O Movimento Metodista foi reformador e renovador. Wesley pôde concluir que a vocação que o Senhor lhe dera era a de "reformar a nação, particularmente a Igreja, e espalhar a santidade bíblica por toda a terra". Ele via o "mundo todo como a sua paróquia" e nesse sentido ampliou a área de ação do seu movi mento à Irlanda, Escócia e daí à América. Foi um movimento altamente missionário.
ATAS DO 17Q CONCÍLIO GERAL DA IGREJA METODISTA

Qual o significado de evangelização e missões para a igreja Metodista do Brasil?



1- Missões significam a nossa razão de existirmos.

Deixados de lado as complicadas explicações teológicas e missiológicas a Igreja Metodista existe por causa das missões estrangeiras que aconteceram em solo brasileiro. Ou seja existimos por que fomos criados e plantados aqui por uma igreja norte-americana em missão. Se assim não fosse, jamais conheceríamos o evangelho desta forma que conhecemos hoje. Temos uma débito com o mundo e a evangelização. Agora depois de mais de 100 anos de vida como Igreja, parece que precisamos redescobrir a razão de nossa existência e,ou utilizando uma linguagem mais atual da área de planejamento, a nossa “missão”; Wesley liderou um movimento de avivamento que gerou desdobramentos dentro e fora de seu movimento. Alguns dizem que impediu uma guerra civil, inspirou William Carey a ser um dos líderes do movimento de missões modernas e causou os antecedentes do avivamento pentecostal. Seja como for este movimento de avivamento metodista cruzou os mares terras chegou em norte americanas e de lá nos atingiu. Qual a nossa responsabilidade diante desta história? Qual a nossa missão? 

A teologia/missiologia tem um nome complicado para isso; a missio dei. (A missão de Deus.) 
A missão da Igreja é se tornar parceira da Missão de Deus. Difícil é  compreender e concordar a respeito do que seja essa “missão” uma vez que somos seres limitados. 

Uma das mais curiosas e notáveis memórias do metodismo é a descrita no livro linha de esplendor sem fim. Página 68 em que Carlos G.MacCabe um dos secretários da sociedade de expansão da Igreja Metodista deu um dos mais estranhos (...)“telegramas que já foram pedidos para serem transmitidos.Aqui está ele:
Caro Roberto;Saudai o nome de Jesus- estamos construindo um igreja metodista a cada dia do ano, e propomos construir duas por dia!” (...)

Reilly grande e saudoso professor da faculdade de teologia de São Paulo diz em um de seus livros que o “que caracteriza o metodismo não é, portanto, nem sua doutrina e nem a sua forma de culto. John Wesley nunca repudiou a sua herança a esse respeito. Ele dotou o metodismo norte-americano de uma liturgia basicamente anglicana ( na verdade apenas uma simplificação do livro de oração comum) , uma declaração de fé , os artigos de Religião , que não passam de uma simplificação dos tradicionais trinta e nove artigos ( Wesley expurgou os elementos mais calvinistas, pois era arminiano , com tem sido o metodismo wesleyano) .O que caracteriza o metodismo é a sua política eclesiástica , seu ministério ( tanto itinerante quanto laico) , sua ênfase sobre a experiência pessoal da fé a conseqüente santificação , seu padrão moral ( As Regras Gerais) , etc...pagina 80 Reilly


Mesmo tendo em mente as diferenças históricas e de contexto entre a época em que Wesley viveu e a nossa, reconhecemos que o presente momento histórico, nacional e mundial convida a Igreja, à luz das realidades e das necessidades atuais, a uma ação dinâmica, evangelizadora e missionária. A mesma força e o mesmo espírito presentes no movimento wesleyano despertam-nos e motivam-nos a "reencontrar" a paixão e a dinâmica evangelizante, junto das pessoas, dos grupos sociais, das comunidades, de toda a sociedade humana Bispo Nelson Leite prefácio John Wesley o Evangelista.

Podemos perceber entretanto alguns pontos que nos aproximam daquela época realçadas pelo próprio bispo Nelson naquela ocasião (da primeira edição);

"No contexto de crise, angústia, corrupção, opressão, dominação, ausência de valores morais, injustiça, carência de verdade, amor, solidariedade e paz, a redenção evangélica é tremendamente necessária. Redenção que deve alcançar a todas as pessoas, a totalidade da vida e a vida em sociedade. O momento presente, crítico e desafiador, é a "porta aberta" por Deus para o cristão e a Igreja. Evangelizar, sem sectarismo. Evangelizar como um ato de amor, de dádiva, de identificação e solidariedade. Evangelizar sem minimizar a pessoa e sua cultura, sem desrespeitar a dignidade humana nem seqüestrar a vida; ao contrário, enriquecendo-a, transformando-a com o poder de Deus, através da ação viva do Espírito Santo. Bispo Nelson Leite prefácio John Wesley o Evangelista."


No século XXI seguindo o contexto do final do século XX continua a Igreja continua a sofrer um forte ataque à sua ética, sua teologia e à sua eclesiologia o que em parte reflete o grande desapontamento dos seres humanos em relação ao estado das coisas em geral. Existem tentativas por parte da mídia em se rotular todas as igrejas dentro de um “pacote gospel”devido ao forte “barulho” que algumas denominações novas e às vezes sectárias fizeram em nosso contexto social em parte se utilizando da própria mídia como arma o que gerou diversas reações.

Estou convencido que semelhantemente a Wesley temos o desafio de “reformar a nação em particular a igreja”. Estou trabalhando em um texto mais aprofundado nesta direção em relação ao estudo da evangelização contemporânea versus evangelismo. O próprio conceito de Evangelismo nos remete a mais um “ismo” ocidental, um sistema do “presente século” enquanto a evangelização precisaria na verdade refletir um “estilo de vida” dos cristãos(ãs) do Reino e do caminho. A Igreja parece mais uma rede de clubes com departamentos de crescimento através do marketing. Por isso a Igreja acaba sendo induzida a “perder tempo” com “evangelismo” (Que é uma palavra que não existe na bíblia) e estratégias missionárias que mais me parecem armadilhas ( arapucas) daquele tipo de pegar passarinhos. Quando o “infiel” dá mole , pluft. Caiu... O Evangelismo acaba por ser reduzido a um sem número de estratégias de convencimento conversionista, proselitista com mais ênfase na adesão institucional do que na redenção do ser e na implantação do Reino de Deus. Acredito firmemente que Enquanto não resgatarmos a nossa razão de ser no Reino de Deus não poderemos realizar a obra de “espalhar a santidade bíblia sobre toda a Terra” que Wesley propôs ao movimento metodista com tanta propriedade há trezentos anos atrás.

Pelo fato de ser evangelista e pregador metodista por muitos anos, alguns devem estar provavelmente se perguntando; “será que esse Wilson ficou maluco? porque ele estaria criticando o evangelismo se ele é evangelista?” Gostaria de começar dizendo que eu não sou contra evangelização nem sou contra a a “propaganda” da Igreja muito menos contra a “adesão” de novos membros sem a qual jamais cresceríamos. Entretanto sou a favor da promoção de um conceito de evangelização ao invés de evangelismo. Muitas vezes os evangelistas institucionais vêem as pessoas quase que como um número, uma meta , um alvo de marketing a ser tabulado; isso é muito diferente da evangelização preconizada da bíblia. Por exemplo, a TV , que é usada por muitas igrejas e denominações, poderia ser um excelente processo de divulgação das “boas novas”. Entretanto seu conteúdo ou as boas novas ali pregadas, pode muitas vezes não refletir os sinais da novidade do “Reino de Deus”. Outro erro de nossa pregação é que a pregação do evangelho não pode ser confundida com o próprio “Reino” em si, mas deveria nos conduzir ao Reino. Vou tentar discutir melhor isso mais tarde. Nossa Igreja Metodista na I Região tem tentado fugir a esses clichês gospel apesar de toda a pressão que se sofre por parte até dos membros das Igrejas que geralmente têm recebido forte influência da mídia gospel. Em geral a mídia aconpanha esses irmãos por mais tempo que seus próprios líderes e pastores(as)

Esta atitude de conectar “evangelização” com a “propaganda” da fé ou do evangelho não são recentes nem foram inventadas pelos pastores eletrônicos evangelicais norte-americanos , muito menos seria uma fórmula originalmente criada pelos neopentecostais brasileiros.

Pelo estudo da origem etimológica da palavra propaganda encontraremos seus criadores na Igreja Catolica Romana. A palavra propaganda é derivada da antiga expressão “propaganda do evangelho” e foi criada pela Igreja institucional católica Romana.

O termo em si, origina da Sagrada Congregação Católica Romana para a Propagação da Fé (sacra congregatio christiano nomini propaganda ou, simplificando, propaganda fide), o departamento da administração pontifícia encarregado da expansão do Catolicismo e da direção dos negócios eclesiásticos em países não-católicos (territórios missionários). A raiz latina propaganda remete ao sentido de "aquilo que precisa ser espalhado".wikipedia

Entretanto posteriormente a Igreja Romana confundiu a atividade do “anúncio do evangelho” ,ou seja a sua “propaganda”, com o próprio conteúdo do anúncio que é o “Reino de Deus”. Mais tarde confundiu todo o seu ativismo, liturgia e sacramentos como essas atividades representassem o “anuncio” acabando por deturpar mais ainda desta forma a razão de sua existência e “sua santa convocação” ( Eklesia). A Igreja vocacionada teve objetivos e propósitos claros proclamados por Jesus e os primeiros seguidores do caminho. Posteriormente depois quase todas as suas “filhas” e ramos protestantes e derivações acabaram por perpetuar parte destes erros , ainda que tenham em parte tentado "corrigir" esses "desvios" através da “reforma” e parte destes erros eram institucionais.( uma das razões da reforma protestante).

Traçando um paralelo entre essa situação da propaganda da Igreja com a situação de propaganda do desenvolvido marketing moderno profissional contenporâneo, poderíamos até mesmo arriscar na discução da questão da "ética do anúncio". Sabemos que existem muitas “propagandas” que não correspondem ao material anunciado às vezes; por exemplo, existem alguns filmes em que o anuncio é mais floreado do que o próprio filme em questão. Na ética de mercado brasileiro existem limites legais ao que a propagando poderia anunciar o que nem sempre é respeitado.

ART. 66 – Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços:
Pena – Detenção de três meses a um ano e multa.

Recentemente actimel um produto foi autuado por estar fora dos padrões aceitos para promoção de seu produto. http://www.jornaldamidia.com.br/noticias/2009/06/02/Bahia_Nacional/Anvisa_proibe_propaganda_do_produ.shtml

"A forma mais correta para veiculação de uma propaganda é sempre o uso da linguagem correta, a utilização certa dos códigos de ética, buscar sempre entender o que realmente o consumidor almeja e até necessita para o seu dia a dia, ou para o seu futuro, no qual esse produto não possa lhe proporcionar danos morais, que lhe cause constrangimento, isto é, não fugir das normas éticas, trabalhando sempre com a psicologia, buscando um melhor aprimoramento no relacionamento produto x consumidor, causando uma maior empatia, e até, a tão sonhada fidelidade com relação ao consumo do produto através da forma clara e concisa com que ele é apresentado." http://www.uespar.edu.br/propaganda.html União de Ensino Superior do Paraná

Creio firmemente que na ética do anúncio do Reino a “propaganda” não pode se transformar na “arma do negócio” nem mesmo no objetivo do negócio. Nossas armas não são carnais. Não poderíamos cair na tentação de nos sujeitarmos ao “presente século” e seu conceito da “indústria da cultura” de consumo ao entrarmos no ramo da comunicação de forma aética no afã de divulgar o conceito de um pretenso “reino evangélico” ou um “reino da igreja” que não corresponda ao “Reino de Cristo” em função de obtenção de “adesões institucionais” a todos custo. “Porque não ousarei dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para fazer obedientes os gentios, por palavra e por obras; Rom 15 .18”


As conseqüências de nossa pregação e atividade deveriam apontar para o Reino de Deus;

A igreja como o resto do mundo ocidental após o modernismo entrou na Era do “savoir faire” , do “Know how” do “saber fazer”. Nós, seres humanos, vamos à lua, erigimos impérios, construímos/consertamos seres humanos mas as perguntas que são recorrentes na filosofia tais quais , quem sou, de onde vim, e para onde vou ficaram sem respostas plausíveis pela ciência que de forma pragmatica se orientou para uma práxis sem reflexão. Dentro do âmbito da sociedade ocidental depois dos “fracassos” da Igreja na Idade Média que reinou sobre grande parte do império em responder as questões da vida, do fracasso do iluminismo em responder a estas questões e do “mal estar” do modernismo em resolver as “sínteses” filosóficas após as grandes guerras mundiais então surge um contra ataque de relativismo chamado pós modernismo com sua análise da “desconstrução” lingüística que alcançou inclusive a Igreja culminando nesta onda de descrédito da Bíblia e do conceito da própria religião em si.

Em termos práticas na Igreja contemporânea nosso afastamento do Reino ( objetivo da mensagem de  Cristo) é tão grande que acabamos por nos esquecer dele. Como ocidentais estamos na era do know how; “Sabemos como” fazer diferentes tipos de evangelismo ou seja, sabem trazer para a “porta do Reino” ( que é simbolicamente a igreja) mas temos dificuldade de entrar e fazer entrar neste Reino o grande alvo da pregação do Cristo. 

Eu gostaria de relembrar aos estimados diletos irmãos e irmãs que a teologia Metodista não tem uma origem liberal nem visava implantar uma visão liberal de mundo. A origem da teologia metodista tem suas origens nas influências do pietismo alemão em seus diálogos com a confissão Anglicana e outras fontes com as quais debateu, mas sempre tendo com regra geral de exegese da bíblia uma tradição protestante na forma ortodoxa e não vice versa. Naturalmente que o metodismo primitivo foi aberto ao diálogo com outras denominações e tradições teológicas porque Wesley não nunca fundou uma Igreja denominacional mas antes liderou um movimento de discipulado e evangelização que foi chamado de “Movimento Metodista”devido ao ser rigor ascético e organizacional . Entretanto Wesley não foi em direção ao mundo com uma solução sociológica crítica nem uma solução alienante conformista ( existia de fato uma corrente teológica conformista). Ele sabia que vivia em um “século doente e ele tinha a cura”. A cura passava pela reforma interior do ser humano chamada de experiência religiosa. O Conjunto de seres humanos reformados e aperfeiçoados à imagem de Deus ( perfeição cristã) levariam à uma reforma geral da nação. 

“Eu disse que Wesley redescobriu a redenção bíblica. Isto é verdade, porque a noção de redenção tinha se evaporado do Cristianismo do século XVIII. O senso da presença de Deus – a fonte da experiência evangélica - estava ausente. O sermão da época era um ensaio moral lido sem ardor. Havia pouco no sermão que despertasse esperança, temor ou amor, e nada que atraísse ou salvasse os perdidos. O pregador dessa época nãoesperava que alguém fosse "salvo" como conseqüência de sua homilia; portanto, é claro que ninguém o era. O pregador seria o primeiro a surpreender-se diante de uma transformação repentina de caráter em seu ministério; e, se a mudança fosse acompanhada de emoção, ele ficaria bastante aborrecido.John Wesley o evangelista”

Wesley viveu em um período onde a industrialização e o Iluminismo já deixavam seus primeiros rastros de destruição e bem antes da reflexão e leituras Marxistas da História ele já iniciara sua tarefa de “reformar a nação em particular a Igreja e de espalhar a santidade bíblica sobre toda a terra”. A santidade e a perfeição Wesleyana contrastavam com o ceticismo de Hume que era o grande profeta agnóstico do Iluminismo inglês cuja degradação social reflete o nível que uma sociedade poderia alcançar.

“O bispo McConnel observou certa vez, que Wesley nunca se deu ao trabalho de refutar seu contemporâneo, David Hume, o cético. Wesley fez a Inglaterra cantar, e as ondas de emoção, derramando-se de milhares de corações vindos da morte para a novidade da vida, varreram os sofistas (os que faziam críticas com argumentos falsos ou que usavam de má fé, enganadores, impostores).John Wesley o evangelista”.

Dentre as reflexões do século 20 que mais abalaram a questão de evangelização foi o encontro de Lausane. Ariovaldo Ramos afirma que a maioria das pessoas têm uma visão errada do encontro de Lausanne; muitos pensam que Lausanne teria sido um encontro de teólogos (até mesmo de liberais).
Diz Ariovaldo que “Em 1974 Houve um grande congresso de Lausanne Suíça convocado pela associação Billy Graham e o titulo era “para que o mundo ouça a sua voz”.  Arilvaldo diz que “na verdade nascia em grande parte por causa da preocupação que as igrejas do primeiro mundo tinham ao que poderia acontecer com a teologia com o crescimento da teologia da libertação. Primeiramente a TL estava ganhando força principalmente nos países língua espanhola, e em segundo era uma teologia latina americana.”(palestra do Encontro de médicos de Cristo II CENPS)

Ariovaldo também relatou que “O primeiro trabalho da Teologia, da libertação foi de Ruben Alves , enquanto que Richard Shaull já estava articulando um trabalho nesta ordem e Gustavo Gutiérrez Merino no Peru começaram um movimento que tinham em comum que Deus tem uma escolha pelos pobres e que a teologia de ser um respaldo a todos os atos de libertação e o restante era diferente com propostas diferentes. Ou teologias libertadoras com eles preferem.”(...) Tudo isso muito antes de Leonard Boff. (palestra do Encontro de médicos de Cristo II CENPS)


Porque os outros evangelistas europeus e norte-americanos ficaram preocupados? Ariovaldo completa que (...) Os pensadores da TL estavam abandonando método histórico gramatical dos ortodoxos que parte do principio que é o texto já está esta dado; o que é preciso é entender o que está escrito. E para isso é preciso dominar os originais e a cultura da época e ver o que significava na época que a o histórico pra se fazer uma boa tradução enquanto o método crítico quer questionar se o que foi escrito era do fulano mesmo se ele foi escrito por outros, coisa que todo mundo “acreditava”, se ele é dos anos 30 anos 90 anos ou do II século? (..)e aí reconstruir o texto de novo."(palestra do Encontro de médicos de Cristo II CENPS)

Se colocarmos isso tudo em contexto histórico o que eu como metodista percebo, é que especialmente depois do discurso desconstrutivista liberal da releitura da teologia da libertação ( com técnicas de alta crítica bíblica) deu um enfase muito grande na questão dos pobres a partir de uma leitura claramente marxista e nunca mais conseguimos mais recuperar a noção do que seria equilíbrio saudável na evangelização no Brasil e na América Latina em geral. Existe uma forte polarização entre “liberais” e “fundamentalistas” criando pouco espaço para uma ortodoxia equilibrada Wesleyana, um “meio termo” Wesley era a favor do equilíbrio. Muitas vezes nos perdemos entre os desvios da metodologia liberal da alta crítica bíblica que incorporou a sociologia como a lente de leitura da realidade pela teologia ou no radicalismo fundamentalista que muitas vezes insiste na teimosia de ler a bíblia sem os óculos da cultura esquecendo que a “letra mata e o Espírito vivifica”.

Proposta interessante é a de Ariovaldo Ramos em relação a teologia da Missão integral.

Ariolvaldo ainda diz que “Missão integral não é exatamente uma teologia ainda! pode vir a ser. Ela não é uma teologia por que não tratou todas as questões teológicas a partir desta Perspectiva, mas é uma proposta missiológica a partir do conceito do Reino de Deus.”


2- SEMENTES do Reino



Mateus 19 35 E percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.

E falou-lhe de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear.
Mateus 13 3

Jesus não costumava falar acerca do evangelho. Na verdade a expressão evangelho ocorre apenas 12 vezes nos Evangelhos e em geral está atrelado ao “Reino”. Em contrapartida a expressão reino de Deus ocorre 125 vezes.
O Reino é o resultado objetivo do anúncio que corresponde ao evangelho. A semeadura do Evangelho é a pregação que visa conduzir as pessoas para o “Reino” por isso o objetivo maior da Igreja é a implantação do Reino e não do evangelho em si mesmo. Isso pode parecer incoerente porque nos acostumamos com a ênfase no “Evangelho” como se fora o fim de nossa obra e não um meio para se alcançar o “Reino”. Jesus não falava acerca do Evangelho, ele falava sobre o Evangelho do Reino. Entretanto o conceito do Reino desapareceu dentre as igrejas e por séculos temos debatido mais acerca da forma do “evangelho” ao invés do Reino e na medida em que e a Igreja se focalizou no anuncio em detrimento do Reino em si a teologia acabou se distanciado deste Reino de Deus e se aproximando de uma espécie de reino da Igreja institucional.


A palavra evangelho significa boas novas. Logo o anúncio da boa nova não é a boa nova mas representa o Reino de Cristo pregado. Jesus o Cristo é a capitão/ponte/porta/caminho ( dentre muitas figuras) para o Reino e sua função/papel de “Cristo” somente faz sentido a partir da perspectiva do Reino de Deus. Sem o conceito do Reino de Deus, o Jesus histórico passa a ser um mártir qualquer, menor que um profeta. O Cristo necessariamente é o Rei de um Reino vindouro antecipado pelos profetas Judeus. Ora se Jesus era o Messias conseqüentemente ele teria um Reino; mas o Reino de Cristo ( está escrito) não era deste mundo. Os muçulmanos em sua análises da alta crítica bíblica acusa os cristãos de não crerem em seus próprios escritos e que deturpam com as diversas traduções.


3- “VENHA O TEU REINO” 

Essa expressão é uma das mais poderosas afirmações de Cristo. Na época em que Jesus falou ela tinha significado muito grande para os que conheciam o conceito teológico judaico do Reino de Deus. Já existia uma discussão sobre o Reino e naquela época já existiam também partidos que interpretavam essa expressão. Como seria o reino do Messias (Cristo em grego) ? Seria político, seria espiritual? Seria conquistado a força através de mais uma das guerras judaicas no estilo de Davi? O que significaria a restauração de todas as coisas? Jesus Cristo disse o seu reino não era desse mundo. Continua Ariovaldo a falar sobre a proposta de uma proposta teológica de missão integral a partir da perspectiva do conceito do Reino. 

“Eu vou "pegar carona" com o meu amigo Ziel Machado, que diz que a Missão Integral é uma proposta missiológica a partir de uma perspectiva do reino de Deus. E eu "vou na carona" dele porque eu acho que "é por aí" mesmo, pelo menos "é por aí" que eu me entendo quando falo de Missão Integral, e por isso eu escolhi esses dois textos, porque esses dois textos falam exatamente do transtorno que é uma mensagem que proclama um outro rei. Porque proclamar um outro rei é proclamar um outro reino, e proclamar um outro reino é proclamar um novo modo de vida, uma nova Carta Magna, um novo jeito de viver, um novo jeito de se relacionar, tudo agora é diferente: há um novo reino, uma nova dinastia, e esse reino não tem nada a ver com o reino que o antecedeu, portanto, inaugura-se uma nova dimensão para a humanidade. "Tem um novo rei, tem um novo reino. Tem um novo reino, tem uma nova estrutura de Estado, de governo, de relacionamentos etc." “http://www.irmaos.com/ariovaldoramos/artigos?id=2432


Dentre as muitas características do Reino descritas em muitos lugares gostaria de compartilhar algumas

1- O Reino existe porque foi anunciado e era esperado ansiosamente.
2- O Reino concretiza o plano inicial de Deus em relação ao Homem iniciado em Gênesis.
3- O Reino é para todos(as).


1-O Reino é esperado ansiosamente – a criação geme pela manifestação dos filhos

A palavra evangelho significa boas novas. Logo a boa nova não é o anúncio em si, mas o Reino de Cristo. Em Seu livro o que Paulo realmente disse ( What Paul really Said) N T Wright descreve um evangelho do Imperador Romano Augusto César quando afirma que a paz vai reinar porque a luz está entre nós. Jesus o Cristo e ele somente faz sentido a partir da perspectiva do Reino de Deus. Sem o Reino o Cristo é um mártir qualquer. Menos que um profeta. O Cristo é a ponte/porta/caminho para o Reino. Sem a perspectiva profética da palavra de Deus não existe o “Cristo” ungido e conseqüentemente não existiria a Cristandade. O evangelho dos cristãos passa a concorrer com o evangelho do imperador Romano. “Então o culto imperial cresceu. Suas boas novas eram que César o filho de Deus , era agora o novo Senhor de todo o mundo , reclamando sujeição de todos para trazer salvação e justiça ao Mundo. Resistência era enfrentada com crucificação. O sistema era baseado em puro poder.”  

"So the imperial cult grew. Its “good news” was that Caesar, the son of God, was now the lord of the whole world, claiming allegiance from everybody in return for bringing salvation and justice to the world. Resistance was met with crucifixion. The system was based on sheer power."nt wright http://www.ntwrightpage.com/Wright_BR_Jewish_Revolution.htm


2- O Reino é a concretização da plenitude da presença de Deus na terra ESPERADA DESDE gênesis DESDE A CRIAÇÃO. No Gênesis houve uma espécie de parada na implantação do propósito divino na terra. Aqui falta elaboração melhor do texto.

3- O Reino é para todos(as) que ouvem o evangelho e o receberam.

Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade, e traze aqui os pobres, e aleijados, e mancos e cegos.
E disse o servo: Senhor, feito está como mandaste; e ainda há lugar. Luc 14 22


“Deus está trazendo um novo céu e uma nova terra? Nós estamos trabalhando para que surjam um novo céu e uma nova terra. Deus está trabalhando um novo nível de relacionamento na Criação? Nós estamos nos esforçando para que haja um novo nível de relacionamento na Criação. Esse é o sentido da frase “venha o teu reino.” Na verdade, nós estamos pedindo para que Ele venha, enquanto nós estamos indo. E é preciso lembrar que a ordem, que é a Grande Comissão de Jesus, que nós traduzimos por “Ide e pregai o Evangelho a toda criatura” tem como melhor tradução a forma: “Indo, pregai as boas novas a todas as criaturas.” O grande equívoco da Igreja foi ter reduzido o termo criatura a humanidade, como se só a humanidade fosse criatura de Deus. Mas Jesus Cristo disse “a toda criatura”” http://www.irmaos.com/ariovaldoramos/artigos?id=1963 ( artigo de Ariovaldo)

A aliança de Deus com todos os seres humanos se manifesta neste Reino da “nova aliança”. O ser humano separado volta a ter direito à cidadania plena com Deus. Esta cidadania celestial foi confundida com a cultura ocidental. Tanto a cidade celestial de Agostinho como a visão de Kant trazem a perspectiva “cosmopolita” Greco Romana que é nada mais nada menos que a implantação do Império Romano e da Pax Romana( paz). O Cosmopolitismo entra nas culturas, as reinterpreta e as reabsorve. Daí o medo que tenho de algumas leituras ecumenistas. Oikomene é um conceito que antecede as reformulações trazidas depois. O primeiro concílio ecumênico foi realizado sob toda a tutela estatal e do próprio imperador constantino. O mundo habitável ela aquele em que o império reconhecia. Trazia ainda, na minha opinião, resquícios do pensamento grego do barbarismo.( aqueles que não falavam a sua língua grega).  

A cidadania do Reino de Deus pregado por Cristo, por outro lado é aberta para todos(as); escravos , livres, gregos e judeus mas se relaciona com todas as culturas de forma diferente do cosmopolitismo ocidentalista romano ; o Reino vai redimir cada cultura cada perspectiva e reencontra a nelas essência da humanidade. “Porque todos pecaram” ( e essa categoria inclui o Judeu) e “destituídos estão da glória de Deus”. O que temos na nossa cultura que expressa os valores de Cristo e seu Reino? Será que a Reforma da nação contemporânea proposta por Wesley não poderia ser muito bem compreendida como a “redenção da cultura” descrita por Robson Cavalcante? (isso poderia quem saber corresponder a uma redenção da cultura. Não se trata de acabar com a cultura mas redimi-la de seus pecados.) Será que em todas as culturas não existiria uma fagulha da graça preveniente de Wesley? Ou será que algumas culturas estariam totalmente fora da presença de Deus em detrimento de outras?

Robson se aproxima da visão de graça preveniente quando afirma que as “as culturas, como criação humana, são expressões da imago dei: recebemos de Deus a habilidade para pensar, sentir e criar, segundo o seu projeto original. Por outro lado, o pecado, a rebelião, afetaram moralmente a humanidade, provocando distorções na criação cultural, com sinais de morte, ódio, exploração, egoísmo, desequilíbrio, insanidade, e podem dar lugar ao demoníaco: a sintonia entre os poderes deste mundo e as potestades espirituais da maldade.”

A busca do sagrado é evidente através dos diferentes movimentos religiosos. Se houve uma humanidade comum anterior à queda então deve haver em comum uma graça preveniente em todas elas e segundo Robson “Os cristãos, ao compartilharem sua meta-narrativa, podem desencadear processos redentores (redimir a cultura). Para Colin Harbinson, "a história se move em direção à plenitude do Reino que há de vir, Deus já iniciou, em Jesus Cristo, o processo de restauração da geração caída e está trazendo todas as coisas em harmonia com o seu projeto original (Cl 1.20). Não há área da cultura que esteja fora do plano reconciliador de Deus. Ele nos deu um ministério de reconciliação" (2 Co 5.18), não só para os indivíduos, mas para todas as esferas e estruturas sociais. "O evangelho do Reino transcendeu a cultura, mas seu poder e propósitos transformadores devem se dar dentro de cada sistema cultural."

(...) As matrizes missionárias, que temem o sincretismo com as culturas não-alcançadas, já foram alcançadas pelo sincretismo de suas culturas neopagãs (individualismo, competição, consumismo, modelo econômico etc).(...) R.Cavalcante http://didaskalous.blogspot.com/2007/09/redeno-da-cultura.html

A sociedade ocidental assim como a nossa onde as igrejas mães se formaram já está afetada pelo seu pecado social. Aqui Robson Cavalcante relembrando nossa origem de missão, nos conduz para o difícil plano da auto-análise e auto-crítica. Enquanto Igreja muitas vezes estamos cegos em relação a nós mesmos e nossa cultura. A Igreja enquanto cultura ocidental cometeu falhas muito graves na sociedade ocidental. Precisamos reconhecer isto. O Mundo tem por escrito a prova contra nós. Não poderemos nos eximir com cristãos históricos que somos de nossa responsabilidade com o mundo em especial devido ao cisma ocidente x oriente. O ocidente tem em sua constituição cosmológica parte do cristianismo enquanto cultura que se entremeia até mesmo entre a cosmovisão dos ateus e agnósticos ocidentais.

A Graça preveniente nos remete a uma atitude “inclusiva” em relação ao reino diferentemente do Calvinismo da predestinação que Wesley combateu em Whitefield.

O plano de restauração de Deus inclui "a cura das nações".(..)“ Por essa razão, um cristão asiático fez, certa vez, um apelo para que os missionários pudessem trazer o cristianismo para o seu país como uma "semente", que pudesse crescer deitando raízes em seu solo, e não como "mudas crescidas", estranhas e deformadas.” R.Cavalcante http://didaskalous.blogspot.com/2007/09/redeno-da-cultura.html


Outra coisa a lembrar é que as relações distorcidas entre o poder temporal e a Igreja foram manifestados em todas as expressões organizacionais e institucionais de Igrejas, seja na Católico Romana, nas tradições orientais , nas reformadas e protestantes e finalmente nas atuais manifestações neopentecostais e Asiátias. Todas acabam por confundir sua missão confessional com seu poder temporal e no ato da pregação se distancia de sua práxis.

".(..)“ Por essa razão, um cristão asiático fez, certa vez, um apelo para que os missionários pudessem trazer o cristianismo para o seu país como uma "semente", que pudesse crescer deitando raízes em seu solo, e não como "mudas crescidas", estranhas e deformadas.” R.Cavalcante http://didaskalous.blogspot.com/2007/09/redeno-da-cultura.html


A Igreja então precisa reaprender com Cristo a lançar sementes na sua evangelização ao invés de se especializar em pescarias evangelísticas. Evangelistas são semeadores assim como o Cristo. As sementes morrem, mas depois crescem e frutificam. Aprendamos a frutificar ainda que tenhamos de "morrer". Vamos nos tornar amigos de pessoas de verdade que carecem de nossa ajuda, apoio, carinho e companhia de verdade.Vamos nos tornar vizinhos ou usando a linguagem bíblica próximos. Deus nos abençoe,

Este texto já extrapolou seu tamanho e objetivos para um blog. Espero que sirva de edificação espiritual. Perdoem as falhas de um pequeno ensaio livre e não acadêmico. Vou gastar um tempo na segunda parte ( Concretização do Reino.) em outra ocasião.

Wilson Bonfim

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